8.10.06

CONCHA y TORO


A vinícola chilena Concha y Toro nos últimos anos acabou por sepultar um tabu que há décadas dizia que vinhos de qualidade eram franceses ou italianos. Quer seja no segmento premium ou no popular os vinhos da Concha y Toro estão entre os melhores e mais consumidos do mundo, conquistando o olfato e o paladar até dos mais exigentes consumidores. 

A história 
A história de uma das marcas mais fortes do Chile começou no ano de 1883 quando Don Melchor de Concha y Toro, um distinto advogado, empresário (que acumulou fortuna explorando minas de prata no deserto de Atacama) e político influente no país (incluindo eleições para deputado e senador e três passagens pelo Ministério da Fazenda), acompanhado de sua riquíssima mulher Emiliana Subercaseaux, fundou a vinícola com o nome de Marquês de Casa Concha, localizada na pré-cordilheira, perto da cidade de Santiago, com o objetivo de explorar o potencial da produção vitivinícola do vale do Rio Maipo, onde o clima era mediterrâneo e o solo aluvial. Ele importou as mais exclusivas mudas de uvas de Bordeaux, região francesa tradicional na produção dos melhores vinhos do mundo, plantou no vinhedo de Ponte Alta e, em pouco tempo, colheu uvas de boa qualidade, que lhe rendiam vinhos interessantes. Foi então que ele contratou um importante enólogo francês, Monsieur de Labouchere, para preparar os seus vinhos. Começava a nascer uma lenda.


O maior e mais importante vinhedo do Chile foi pioneiro na produção de vinhos. Conta a história que uma praga devastadora arrasou as plantações na Europa de onde foram colhidas as mudas trazidas por Don Melchor. Por isso, apenas ali, no Vale do Maipo, encontram-se as raras parreiras com as uvas que produzem o famoso vinho Don Melchor, que conquistou os críticos internacionais da bebida. Os vinhos produzidos tiveram sucesso imediato. Porém, foi o emblemático Casillero del Diablo, feito da uva Cabernet Sauvignon, que projetou o vinho chileno para o mundo. Foi em 1891 que Don Melchor criou a lenda do que é hoje um dos vinhos mais conhecidos mundialmente. A lenda que cerca este mítico e aclamado vinho, transformou os vinhedos do Chile famosos no mundo inteiro. No ano seguinte, com a morte do fundador no dia 21 de julho, seu filho, Juan Enrique, assumiu o comando dos negócios.


O primeiro carregamento de Concha y Toro á desembarcar na Europa foi em 1933 no porto de Roterdã na Holanda. A consagração da conquista do mercado mundial se deu a partir de 1957, com a vinda de Don Eduardo Guilisasti Tagle para a presidência da empresa, o qual adquiriu novos vinhedos; criou uma vinícola orientada só para a exportação, chamada Cono Sur; fincou pé no outro lado da cordilheira, adquirindo um vinhedo em Mendoza (Argentina), onde instalou a Bodega Trivento, também focada no mercado externo; iniciou o desenvolvimento de novos produtos e adequou a política da empresa aos padrões mundiais de qualidade. Em 1994, se tornou a primeira empresa do setor no mundo a comercializar ações na Bolsa de Valores de Nova York.


A partir desta década a empresa iniciou o lançamento de vinhos excepcionais, como por exemplo, em 1997 quando foi produzido em parceria com a famosa e conceituada vinícola francesa Baron Phillippe de Rotschild, o aclamado Almaviva, safra 1996, inaugurando, no Chile, a categoria Primer Orden (equivalente à categoria francesa “Grand Cru Classe”). As uvas utilizadas na fabricação deste aclamado vinho advêm de plantas com mais de vinte e cinco anos de idade e que se encontram em um setor denominado Puente Alto. O Almaviva é o único vinho do Chile a ter sua bodega em caráter Chateau, ou seja, um vinhedo, uma bodega e uma equipe técnica exclusivos para a produção de um único vinho. Para entender o sucesso desse vinho tinto, 99% de sua produção é exportada e negociada por brokers franceses e distribuída para as melhores lojas, hotéis e restaurantes do mundo. Em 2000, outra lenda foi introduzida no mercado: o vinho TERRUNYO, proveniente da seleção dos melhores vinhedos, em qual se identifica um caráter único e complexo em cada variedade selecionada.


Quatro anos mais tarde a Concha y Toro atingiu o volume de 1.5 milhões de caixas do vinho Casillero del Diablo exportadas. Nesta época, o mais conhecido vinho da empresa, justamente o Casillero del Diablo, ganhou nova roupagem e garrafa, além de uma enorme campanha de marketing nos 114 países onde era comercializado, se transformando em uma marca global. Nesta época, a Concha y Toro se posicionava como a sétima maior produtora do mundo e a primeira da América do Sul. Em 2010 a Concha y Toro assinou uma parceria inédita com o Manchester United para ser o vinho oficial da tradicional equipe inglesa de futebol. O acordo tinha como objetivo aumentar a notoriedade da Concha y Toro e das suas marcas no mundo inteiro, com particular foco nos mercados da Ásia, América Latina, África, além do leste e norte da Europa. No início de 2011, a empresa anunciou a compra da Fetzer Vineyards, maior vinícola do condado de Mendocino, no estado americano da Califórnia. Com isso, a empresa chilena adicionou ao seu portfólio marcas como Fetzer, Bonterra, Five Rivers, Jekel, Sanctuary e a licença de uso da Little Black Dress. No final de 2014, a empresa inaugurou o seu primeiro Centro de Pesquisas e Inovação, um moderno complexo de laboratórios e cave experimental, únicos na América Latina, cujo objetivo é explorar o potencial de outras cepas e melhorar as já cultivadas no Chile.


Afinal, o que faz uma marca de vinho ser tão apreciada e admirada assim? Um dos segredos está na matéria-prima. A Concha y Toro tem como filosofia que a qualidade dos vinhos nasce na parra, independentemente de estarmos falando de vinhos com produção em massa, como Frontera ou Sunrise, ou de vinhos especiais, como Amelia ou Don Melchior. E para garantir matéria-prima de qualidade alguns cuidados são fundamentais. A escolha do terroir – termo francês que significa o local ideal para a plantação – a adequada seleção das mudas e o manejo são os fatores principais que influenciam em qualquer produto final da Concha y Toro.


Um vinho cheio de mistérios 
Basta identificar no rótulo o semblante ornado por chifres para saber que o vinho em questão é o chileno Casillero del Diablo, uma espécie de fenômeno capaz de agradar a quase todos os paladares. A lenda desse vinho, inicialmente feito da uva Cabernet Sauvignon, começou há mais de cem anos, em 1891, quando o fundador da marca resolveu reservar para si os melhores vinhos das safras de suas vinícolas. Como forma de manter inalteradas as condições de temperatura e unidade, estes vinhos foram guardados ao fundo de uma magnífica adega subterrânea, um depósito especialmente destinado a este fim. Passado algum tempo Don Melchor de Concha y Toro percebeu que estes vinhos estavam desaparecendo misteriosamente. Depois de inúmeras conversas chegou à conclusão que estavam sendo roubados por pessoas das redondezas. Diante disto, para cessar o sumiço dessa reserva preciosa, espalhou ardilosamente o boato de que o próprio diabo vivia dentro do porão no qual os vinhos estavam armazenados. Bastou que um ou dois empregados vissem sombras e ouvissem barulhos no local para que o rumor se espalhasse. E a história funcionou. O medo afastou todos os ladrões, e, nunca mais, sequer uma garrafa voltou a desaparecer. Nascia assim o lendário vinho Casillero del Diablo (em espanhol algo como “A Adega do Diabo”). O mítico vinho seria lançado no mercado somente em 1966, sendo um dos principais responsáveis por projetar a Concha y Toro internacionalmente, vendendo mais de 5.22 milhões de caixas (9 litros) no mundo inteiro em 2017.


Atualmente a linha Casillero de Diablo é composta pelos vinhos tintos (Carmenére, Merlot, Cabernet Sauvignon, Shiraz, Pinot Noir e Malbec), brancos (Chardonnay, Sauvignon Blanc Riesling, Pinot Grigio, Viognier e Gewürztraminer) e rose (Shiraz), além da linha Reserva Privada (CS/Shiraz e Sauvignon Blanc) e um espumante. Mais recentemente a empresa lançou o Casillero del Diablo Vintage, uma réplica exata do primeiro Casillero del Diablo, lançado décadas atrás, vindo direto da famosa adega onde nasceu a lenda. Um produto único, do renomado Vale do Maipo, que é uma reprodução em edição limitada do vinho que se tornou, com o passar do tempo, um dos Cabernet Sauvignons mais conhecidos no mundo. O famoso vinho tem como slogan “Casillero del Diablo. The original wine legend” (“La Leyenda Original del Vino”).


Um cardápio de qualidade 
Os vinhos Concha y Toro e Casillero del Diablo são apenas algumas das marcas produzidas pela empresa. Entre sua gama de produtos existem desde vinhos de excepcional qualidade como Don Melchor (um Cabernet Sauvignon feito com uvas do melhor e mais antigo vinhedo da casa, o Puente Alto, lançado no mercado em 1987. Até 2000, era 100% Cabernet Sauvignon, mas a partir de 2001 foram agregadas as uvas Petit Verdot e Cabernet Franc), Carmín de Peumo (um vinho espetacular, com seu aroma e cor, que consagrou internacionalmente a uva Carmenère), Amelia, Terrunyo (produzido com uvas de vinhedos selecionados onde o micro-clima, as uvas Carmenère, o solo e a mão perita do homem interagem de forma mágica, criando a harmonia perfeita dando origem à qualidade única), Marqués de Casa Concha (uma linha de vinhos Charddonay e Merlot), Trio (elaborado com corte de três uvas: Cabernet Sauvignon, Shiraz e Cabernet Franc), Late Harvest (único vinho de sobremesa da empresa, um blend de Sauvigon Blanc e Riesling colhidas tardiamente com grande concentração de açúcar) e Almaviva (um ícone dos vinhos chilenos); passando por vinhos de excelente custo benefício como Sunrise e Frontera; até os populares de boa qualidade como Tocornal, Clos de Pirque, Exportación e Fressco. A empresa ainda oferece os vinhos Trivento (que trabalha com a uva Malbec) da Argentina, além de Fetzer e Bonterra (que se destaca pelo vinho orgânico), marcas californianas.


Em 2005, uma das melhores colheitas que houve em todo o Chile, permitiu o nascimento do Casillero del Diablo Reserva Privada. A equipe agrícola da Concha y Toro por anos trabalhou para elaborar um grande vinho e eis que do Vale do Maipo, na zona de Pirque e Rapel, em Pneumo, surgiu este vinho que permaneceu em barril de roble francês por 14 meses dando maior complexidade e aporte de madeira ao Casillero del Diablo. Atualmente todos os vinhos da Concha y Toro são produzidos em 11.000 hectares de vinhedos no Chile, na Argentina e nos Estados Unidos, o que torna a empresa a segunda maior a nível mundial com vinhedos próprios.


A vinícola 
Um passeio pela história do vinho. Assim pode ser definida a visita à Concha y Toro, a maior e mais importante vinícola do Chile e da América Latina, localizada em Pirque, pequeno município a 27 km da capital chilena. Logo ao chegar, entende-se porque Concha y Toro é uma das vinícolas mais procuradas pelos turistas e amantes dos vinhos.


A paisagem é fascinante. Em grande parte dos 68 hectares (com as mais nobres uvas francesas, tais como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Merlot, Pinot Noir, Semillon e Gewurztraminer), extensos campos verdes formam um horizonte de se perder de vista. As flores, que emolduram as construções, deixam o ambiente ainda mais romântico e deslumbrante. A visita é bastante agradável e se inicia com um pequeno filme sobre a criação da Concha y Toro. O tour na propriedade passa pela linda casa amarela (chamada de Casona), cercada de belos jardins, com um lago e muitas roseiras, onde habitava Don Melchior e seus descendentes; pelos campos cobertos por parreiras, conhecendo os tipos de uvas (ao todo estão plantados 26 tipos diferentes), inclusive a Carmenère, que é oriunda da França, mas hoje em dia exclusiva do Chile; por todas as etapas de produção; e finalmente uma seção de degustação de tais preciosidades, acompanhada de tapas (petiscos, que incluem queijos, patês e castanhas), onde os enólogos dão uma pequena aula aos leigos no assunto, com dicas de como segurar na taça, sentir o cheiro da bebida e prová-la.


Mas o ponto alto da visita é conhecer o local chamado Casillero del Diablo, onde estão as garrafas do precioso vinho e no qual se criou uma lenda. A história é narrada aos turistas por uma voz macabra dentro da adega subterrânea. As luzes se apagam, uma gargalhada ecoa e na parede surge uma imagem projetada do diabo encapuzado. É um dos momentos mais divertidos do passeio. No final do tour o visitante leva a taça de vinho (na qual foram feitas degustações) de lembrança, com o nome da vinícola. Na propriedade há ainda uma loja para comprar vinhos e outros acessórios. A cada dez minutos parte um tour, alternando os idiomas inglês, espanhol e português. Também há guias que falam japonês.


A evolução visual 
A identidade visual da marca chilena passou por algumas remodelações ao longo dos anos. Mais recentemente a marca apresentou um novo logotipo com tipografia de letra mais moderna.


Além disso, foi criado também um logotipo que utiliza como símbolo as iniciais CT.


Dados corporativos 
● Origem: Chile 
● Fundação: 1883 
● Fundador: Don Melchor De Concha y Toro 
● Sede mundial: Santiago, Chile 
● Proprietário da marca: Viña Concha y Toro S.A. 
● Capital aberto: Sim (1994) 
● Chairman: Alfonso Larraín Santa Maria 
● CEO: Eduardo Guilisasti Gana 
● Faturamento: US$ 965.7 milhões (2017) 
● Lucro: US$ 81.2 milhões (2017) 
● Valor de mercado: US$ 1.57 bilhões (junho/2018) 
● Presença global: 147 países 
● Presença no Brasil: Sim 
● Funcionários: 3.600 
● Segmento: Bebidas Alcoólicas 
● Principais produtos: Vinhos e espumantes 
● Concorrentes diretos: Viña Santa Carolina, Viña Santa Rita, Santa Helena, Terrazas, Robert Mondavi, E&J Gallo, Treasury Wine Estates e Jacob’s Creek 
● Ícones: O vinho Casillero del Diablo 
● Website: www.conchaytoro.com.br 

A marca no mundo 
Atualmente, o vinhedo, responsável por mais de 33% da exportação do Chile no segmento, está localizado em uma região ideal para a produção da uva Cabernet Sauvignon, possuindo moderna tecnologia em equipamentos de refrigeração, tanques de aço inoxidável, filtros e barris de carvalho americano ou encina francesa. Em 2017 a Concha y Toro vendeu 34.8 milhões de caixas (9 litros) de vinhos para mais de 147 países ao redor do mundo. Atualmente a empresa é a segunda maior vinícola do mundo (em área plantada), com capacidade para produzir mais de 370 milhões de litros de vinho, e a quinta marca de vinho mais vendida do mundo. Os maiores mercados da marca são Inglaterra, Estados Unidos, Chile, Alemanha e Brasil. 

Você sabia? 
A Concha y Toro foi considerada, em 2014, a “Marca de Vinhos Mais Poderosa do Mundo” pela consultoria inglesa Intangible Business. 


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Isto é Dinheiro e Exame), jornais (Valor Econômico, Folha e Estadão), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers). 

Última atualização em 4/6/2018

4 comentários:

Anônimo disse...

Entre as uvas plantadas faltou falas d Shiraz, que resulta num dos melhores vinhos da América, o Casillero del Diablo 2004, Shiraz.

Maiz Brand disse...

Boa matéria! Tanto a marca Concha y Toro, como sua submarca Casillero Del Diablo são mesmo fantásticas!

Patrícia disse...

Achei seu blog super interessante. Você aborda todas as marcas de modo firme e profundo. Parabéns! Ótimo texto sobre o Concha Y Toro.
Patrícia - BH - MG

Unknown disse...

Ótima matéria a puci tempo comecei a me interessar por vinhos e tenho tido descobertas interessantes .